segunda-feira, 20 de março de 2017

Desrealidade

Ninguém pode escrever o seu próprio romance, podemos fazer cálculos, estabelecer raciocínios, ou projectar ideais, mas sempre com o intento de evitar mágoas, desacordos, obter satisfação, divertir e não magoar, enfim, viver o amor de uma forma intensa, mas harmoniosa e ternurenta.
Em determinados momentos, dou por mim com a minha consciência dividida em dois, bicompartimentada, ora estou numa realidade física e mundana, ora estou numa desrealidade (um ambiente de ideias completamente surreal) em que vivo num estado de projecção de sentimentos que nunca percebo se são fomentados pela minha mente ou se se esbatem num reflexo no objecto da minha paixão.
Enquanto na irrealidade me debato em paradigmas, suposições, ideais e expectativas, no mundo real, tudo fica mais simples e claro e deixo de ter à minha disposição elementos para elencar e enraizar descréditos e inseguranças.
A realidade é o que é. Por mais voltas e interpretações que lhe queira dar, há-de ter sempre o mesmo valor e o mesmo significado.
As diferenças, essas, estarão sempre no mundo das ideias, das minhas ideias, fomentadas por um cérebro que se mostra indomável e imparável.
 

Não gosto que o mundo me imponha as suas regras, não gosto de seguir rebanhos, não sou uma ovelha negra, nem uma ovelha distinta das outras, mas tenho algumas singularidades que me vincam a personalidade e fazem de mim um alvo em movimento. E derivando desse sentido, do sentido único em que me parece que o mundo gira, tenho-me deparado com algumas limitações e dificuldades que parecem ter a sua origem apenas dentro do meu próprio consciente, tendo por base essa rigidez implacável de que é feita a sociedade em que me insiro (insiro?).
Eis a derradeira problemática da minha actual existência: Na qualidade de sáfica, tenho tido alguns momentos de iniquidade, de "paralisia" de emoções e de gestos de ternura básicos para com a minha querida namorada, sempre que estamos em "público". São gestos simples, que deviam acontecer de forma descontraída e que me deixam sempre a espreitar pelo canto do olho em meu redor.
Eu quero combater esta insegurança, esta inquietação e resolver-me internamente de uma forma definitiva e clara de modo a poder viver livremente e em conformidade com o meu bem estar e com o meu desejo. Quero abraçá-la quando me apetecer, quero os passeios de mão dada, quero o beijo carinhoso, quero olhá-la nos olhos de uma forma apaixonada e quero sentir-me bem ao fazê-lo.
É um processo. Está a instalar-se e a entranhar-se para que eu possa viver mais feliz e desfrutar da pessoa maravilhosa, compreensiva e liberal que tenho ao meu lado e à qual quero muito e bem.


 

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