Já
me entreguei algumas vezes. Não porque me seja fácil fazê-lo, mas, porque sei
que, negando-me à vontade de me entregar, perco intensos momentos de
felicidade, de paixão e de cumplicidade.
Se
eu sei que essa pessoa tem a capacidade de me fazer feliz, eu quero sentir isso
mesmo e lanço-me sem medo, aplicando fortes rédeas à expectativa e convicta de
que tenho de contribuir para esse estado de graça que é a felicidade aliada à
paixão, nunca passando por um estado de vulnerabilidade.
Estar
apaixonada, não é estar vulnerável nem dependente.
Estar
apaixonada é querer estar perto da pessoa que nos faz andar nas nuvens, é
desejar fazer essa pessoa sentir-se também nas nuvens, é partilhar um
sentimento que nos é comum, até na intensidade.
Compreendo
que para muitas pessoas o medo da entrega passa por relações anteriores, em que
de alguma forma não foram correspondidos ou até foram, mas em determinada
altura, findo o prazo de durabilidade, houve sofrimento. Um sofrimento marcante
e difícil de superar.
O que
não compreendo, é que fiquem agarrados a essa forma finita de analisar uma
relação e se coíbam de viver o início de outra relação. Como é possível,
descartar o bem que alguém nos pode fazer sentir, apenas baseado no medo de uma
ou até mais experiências anteriores?
Afinal,
não é nosso propósito na vida, procurar ser feliz?!
Não
importa se vou ser feliz por duas horas, duas semanas, dois meses, 20 anos. Isso
não me impede de o desejar, de procurar ser feliz e estar contente ao lado de
alguém que, garantidamente admiro e desejo. A mim importa-me o presente. Do futuro,
nada sei e do passado apenas reza a história. Raramente penso, se o meu presente
está a delinear o meu futuro, ou se brevemente ou abruptamente, se transformará
no meu passado recente. Aconteça da forma que acontecer, eu terei sempre uma história
gravada em mim, é a minha história pessoal, aquela de que não tive medo e
arrisquei, vivi, mesmo sabendo que haveria um certo dano colateral negativo.
Quem
não se permite a entrega, a paixão não terá deceções, mas também não terá emoções
positivas, alegrias, partilhas que são tão boas de ter, especialmente com
alguém que nos quer bem.
Nós
não somos coisas e como tal, há medos que nos são comuns, quando estamos numa
relação, tal como o medo de sermos substituídos, o medo de não estarmos à
altura, o medo de não sermos tão interessantes como pensávamos ser, as
inseguranças, o ciúme…
Todos
nós sentimos isto, é apanágio de quem se sente atraído por alguém, é algo que
deve ser exposto, trabalhado e tranquilizado.
O amor,
e a paixão fazem-se de respeito pelo outro, de um cuidar com reciprocidade, de
um encurtamento de distâncias, de um contacto com maior proximidade na comunicação,
de presença, de não deixar o outro à deriva, interessar-se até pelas
minudências da sua existência.
A entrega
faz-se focada num início e não num fim já delineado. É necessário deixar correr
o tempo e aproveitar cada momento bom que daí advém.
No
caso de correr mal, fica-nos a lição e um arquétipo de aspetos a evitar numa
próxima relação.
Deixar
de viver intensamente por medo, isso não está certo! É cobardia.
Temos
que nos preocupar menos com aquilo que devemos ser e mais com aquilo que
verdadeiramente somos e quem gosta de nós desta exata forma, tem o poder de nos
fazer feliz em todos os gestos.
Não
quero observar a minha vida por uma janela, ou menos ainda, pelo buraco da
fechadura. Quero abrir as portas e as janelas e deixar o sol entrar,
aquecendo-me o coração, fazendo abortar angústias exasperadas, apreciando a
beleza do mundo na companhia de uma pessoa em particular.