quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A tormenta que há em mim


Sou uma sombra do que já fui. Ando de alma adormecida, num estado catatónico, sonhando que sou tudo e na realidade nada sou!

Vivo a sonhar com o desejo esvaecido, de ser desejada e quando o alcanço, questiono a sua veracidade, a sua real presença, acreditando que é mera ilusão e que só existe na minha mente e que é algo projetado, inusitado e que por vezes se reflete numa alma carinhosa, que me concede um momento de ternura.

Se há momentos em que a ilusão me foge toda eu sou racional e a minha procura arrefece, esmorece e descrê no amor eterno.

Eu quero fugir, fugir, fugir!

Busco o isolamento que me vai clarificar as ideias, fugindo do bem, do mal e de mim mesma.

Habitam em mim as sombras da mágoa, a névoa da tristeza, as brumas da carência, os fantasmas da negação num murmúrio incessante e imemorial que se prende nas lianas da memória e que me ditam um destino, que eu sei, me está traçado. Uma solidão anunciada, uns ais que me estão reservados e que me dilaceram o coração e a alma.

Estou exausta de sentimento. Os meus sonhos são quimeras que se desvanecem como um feixe de luz que o sol exala, no seu último suspiro.

Quero cair no esquecimento, afogar as mágoas que me atormentam, levá-las comigo, enterra-las num vazio profundo insondável, imperscrutável, onde ninguém as pode encontrar. Abandoná-las, dotá-las ao desapego de mim.


Quero ser livre sem ter nada a perder. 

terça-feira, 29 de novembro de 2016

“Langor – estado subtil do desejo amoroso, experimentado na falta deste, sem nenhum querer – possuir.”


À espera que me venhas salvar de mim mesma. Tu, que eu invento no âmago de mim, que conheço como a palma da minha mão, que sei como satisfazer, sei do que precisas e quando precisas. Sei-te de uma forma nossa, intima, inquestionável e inequívoca.

Quero-te com urgência, quero apoderar-me desse teu jeito delicodoce e submeter-te à minha vontade.

Quero sugar-te toda a sensualidade que me mostras quando me olhas com esse teu jeito meigo e afável.

Quero destituir-te do teu tom enigmático e desvendar-te até ao mais ínfimo pormenor.

Quero abalroar as tuas certezas e fazer oscilar a tua segurança.

Quero dissecar-te com palavras, fazer-te elaborar um discurso, entre risos e beijos, fomentar, instigar e arrebatar toda essa sensualidade, desfazendo-te os nós da timidez.

Quero-te como amante intelectual, quero-te como amante de corpo efervescente e de pele que se funde na minha, quero o deleite de entrelaçar os meus dedos nos teus, fustigar-te com carinho, descer ao abismo que há em ti, mergulhar no teu lado sombrio, descortinar os teus pragmatismos, aniquilar afasias indolores num só gesto, quero enlear a minha alma na tua no mais puro ato de fé e devoção.

O teu nome é o perfume exalado em mim, o teu brilho é a estrela que me guia, a tua ausência é ardência em mim.

Quero-te, Zi. A ti e só a ti.

Quero-te uma e outra vez. Quero purgar este langor em que me prendes e suprimi-lo nos gestos angulosos do teu corpo.

Quero sussurrar aquilo que mais gostas de ouvir.

Quero semear em ti, o que há de bom em mim.

Quero que as tuas partidas tenham em mim, todas as chegadas para que juntas, possamos percorrer todas as ruas antigas da cidade, entrelaçando os dedos e demonstrando ao mundo o nosso amor, a nossa empatia e cumplicidade.

Quero pavonear-me contigo, quero que nos olhem e nos detetem a felicidade que, juntas arrastamos por onde passamos.

Quero repetir o amor que fazemos, as horas que inventamos, o brilho que polimos em nós, os gestos de quem se abandona ao afeto e cultiva afeto.

A tua ausência é o tempo em que te espero.


A nossa relação é assim...

*- Tu não és a filha que eu gostava que fosses.

#- Tu não és a mãe que eu gostaria de ter.

sábado, 12 de novembro de 2016

Reservada - eu


Pediste-me uma revelação, querias algo único, querias que me partilhasse.
Pareceu-me mais, que pretendias ouvir de mim uma resolução, algo que não fosse exclusivamente meu, mas que te incluísse nalgum contorno daquilo que há de teu em mim.

Não me revelo. Não me podes perscrutar.

E se eu te revelasse algo que te afastaria de mim?! Algo com o qual não soubesses lidar? Algo a que o teu pensamento ficaria preso, subjugado a considerações que te levariam a ponderar o pouco que ainda ignoras em mim?

As revelações podem ser um meio de tornar as pessoas cúmplices e mais próximas, porém, podem também ser um gume de afastamento e de acautelamento imediato.

Depois disto, ficarás a pensar que género de revelações guardo em mim e que relutância é esta, que me impede de partilhar abertamente?


Não é o momento… (ainda)

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Prosa - Al Berto

“Esperar que teus olhos se pousem nos meus. Esperar que a chuva pare e tu irrompas na claridade das nuvens abatidas sobre o mar. Esperar um gesto, uma palavra que faça o corpo mover-se em direção a ti. Mesmo que eu o não deseje. Mesmo que o mundo desabe nos lábios sobre os lábios. E nenhuma palavra seja possível tornar-se à flor da saliva. Amo-te, se era isso que querias ouvir dizer. Amo-te no silêncio e no medo de despertar em mim as palavras que tu entenderás. E me comprometam, e me desarmam. Amo-te vagarosamente. Peço-te, dá-me Tempo para que as palavras se formem e tomem sentido, se organizem de modo a serem fala simples e imediata dá-me tempo para reconhecer meu corpo esquecido algures na treva duma memória que eu tento esvaziar. Dá-me Tempo para aperceber de novo a falsidade dos espelhos, e de novo construir a minha sombra, o meu reflexo, a minha solidão. Dá-me Tempo, Tempo infinito para que a voz cresça e se transforme em canto. Tempo, quero Tempo, para redescobrir a dor.”

Al Berto, Diários


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Às pessoas fingidas


Perder tempo com pessoas erradas, é o apanágio da minha existência. Um tempo que me é irrecuperável e que podia investir tanto nas pessoas certas, como num prazer solipsista qualquer.

Dar crédito a pessoas que não demonstram interesse ou não retribuem a cortesia é um ciclo de pura estupidez e completamente opcional.

Não sei, por que razão teimo em acreditar, que sou capaz de criar amizades sustentáveis, com a expectativa, sempre apelativa de que estariam dispostas a fazer por mim o que eu, prontamente, faria por elas?!

Graças a estas pessoas de “faz de conta”, de contínua hipocrisia e de sentimento fingido, pessoas de momentos, de promessas vazias e de falso galanteio, vou acumulando conhecimentos e tirando notas, para mais tarde poder decidir sobre a personalidade de alguém que me coloque na mesma inquietação.

Não me tenho como perfeita, e estou longe da ser a melhor pessoa do mundo, mas condeno severamente quem se faz passar por superior e com mentiras (cujas verdades já conheço) desvairadas e astuciosamente entregues.

Não podemos depender da amizade dos outros, simplesmente porque o conceito de amizade desgastou-se, perdeu o significado, deixou de ter espaço, tornou-se inconveniente e incómoda, pronta a ser usada apenas quando lhes convém.

Eu insisto e persisto em acarinhar quem gosto, eu peço desculpa, eu digo por favor, eu agradeço o tempo que me dedicam e preocupo-me genuinamente com o seu bem-estar, porém quando vejo que é num sentido unilateral, desisto e o desapego instala-se para sempre. Sou de amizade irrecuperável.

E depois desta exposição e num ato bem refletido, como um balanço que se faz, vou eliminar alguns contactos sem lhes conceder o direito à devida advertência, apenas o silêncio que me oferecem, mas em dobro!

E sim, faz-me sentir bem melhor!