terça-feira, 4 de outubro de 2016

A Angústia

Uma indolência cósmica, quase analgésica, curvou-se sobre mim, cercou-me como um nevoeiro que não conhece limites, nem pede licença, instalando em mim uma anarquia de sentimentos, cujo significado ignoro, abomino, desprezo.

Esta insatisfação constante, o aborrecimento que os outros me causam, a náusea verborreica dos desgraçados, eternos desfavorecidos pelo destino, acossados pela inércia da sua própria vida, encurralados na toxicidade das suas limitações. Quero exalá-los de mim, arrancá-los da minha presença, quero a diferença, quero o arrojo, quero banhar-me na loucura de um qualquer ser sublime, que me arrebate, me surpreenda e declare que a felicidade é utópica, é irreal, ilusória, tão ilusória como a linha do horizonte, que parece estar lá, toda pomposa e definida, para ser alcançada por um bando de estultos crentes.

Quero o universo explosivo das supernovas, quero o silêncio dos tambores, quero o ribombar da trovoada forte que pinta a noite em raios de luz e faz a terra estremecer. Quero imolar a apatia, pisar a sua sombra gelatinosa, quero rasgar o meu poema preferido e soltar os pedaços ao vento no topo de uma montanha.

Quero saber quando chegas e porque vens.

Quero saber se falta muito para me ir embora.





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