Uma indolência cósmica, quase
analgésica, curvou-se sobre mim, cercou-me como um nevoeiro que não conhece
limites, nem pede licença, instalando em mim uma anarquia de sentimentos, cujo
significado ignoro, abomino, desprezo.
Esta insatisfação constante, o
aborrecimento que os outros me causam, a náusea verborreica dos desgraçados,
eternos desfavorecidos pelo destino, acossados pela inércia da sua própria
vida, encurralados na toxicidade das suas limitações. Quero exalá-los de mim,
arrancá-los da minha presença, quero a diferença, quero o arrojo, quero
banhar-me na loucura de um qualquer ser sublime, que me arrebate, me surpreenda
e declare que a felicidade é utópica, é irreal, ilusória, tão ilusória como a
linha do horizonte, que parece estar lá, toda pomposa e definida, para ser
alcançada por um bando de estultos crentes.
Quero o universo explosivo das
supernovas, quero o silêncio dos tambores, quero o ribombar da trovoada forte
que pinta a noite em raios de luz e faz a terra estremecer. Quero imolar a
apatia, pisar a sua sombra gelatinosa, quero rasgar o meu poema preferido e soltar
os pedaços ao vento no topo de uma montanha.
Quero saber quando chegas e porque
vens.
Quero saber se falta muito para me
ir embora.
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