As
vozes não cessam, dentro da minha cabeça, a angústia queima-me o peito, tenho
ganas de me afundar em águas profundas à procura do momento em que tudo para,
em que o ruído, como um espasmo, cesse e eu possa pensar com clareza.
Gostava
de me redimensionar, de ter o poder de fazer tábua rasa de toda uma vida e ter
o ensejo de recomeçar, de finalmente me libertar de todos os meus medos, dos
preconceitos e ter a coragem estoica de traçar um rumo diferente, viver sem
apego, estar genuinamente contente, conhecer o significado da felicidade,
partilhá-la. Porém, pode aquela que se aborrece de si própria, dar amor a
alguém, dar conforto, fiabilidade, estabilidade e equilíbrio?
Há em
mim um vazio impreenchível, uma necessidade intraduzível, uma esperança
olvidada, uma crença desmoronada, um ténue fio de expectativa em combate, nas
brumas de uma escuridão noturna que, mais não é, do que uma simples ausência de
luz.
Estou
aqui, o meu corpo está aqui, mas eu estou ausente, estou num plano
transcendente, numa paz fictícia, lá muito longe, num mundo de ideias, de vozes
que são minhas, que jorram dentro de mim como espectros à luz de uma lua cheia.
É ao
entardecer que liberto os meus demónios, quando o dia chega ao fim dobro-me
numa posição fetal e indolente, deixo-me aconchegar pelo universo, num manto de
estrelas, todas elas feitas de pó, voláteis como os sonhos.
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