O
meu mundo oscila entre o que sinto desmesuradamente e o que negligencio
propositadamente.
Vivo
num conflito eterno comigo mesma. Às vezes, até parece que tenho um Diabo no
ombro esquerdo e um Anjo no ombro direito a sussurrarem coisas diferentes ao
meu ouvido. Um destila veneno o outro lança o antídoto.
Ao
sair de mim mesma, sou o espectro daquilo que fui, pairo sobre mim, impotente.
Quero comunicar comigo mesma, mas não sou visível ao meu outro eu. É como se eu
viesse de um futuro não distante, acautelar o meu eu do presente relativamente
a algo que me é importante e cuja solução descobri, irremediavelmente, tarde.
Vou
descalça, a noite é fria e escura, a lua ilumina mal a penumbra, as árvores
curvam-se quando me aproximo, estou numa floresta, oiço o quebrar das folhas
secas sob o meu peso, pés gélidos e húmidos, o bafo do orvalho esbate-se no
meu; ofegante, procuro um trilho que me conduza de volta ao casario, mas não
vejo nada. As árvores parecem fechar-se num círculo à minha volta, ao longe
ouve-se um uivo de uma qualquer, amarga e infeliz, criatura e depois um cão a
latir.
De
novo, o silêncio intrépido, rasgado pelo ruído das folhas sob os meus pés, como
um protesto não resignado. Um sinal que me identifica, uma inquietude, uma
impaciência, um inconformismo evitando o mundano, quando há tanto de mundano em
mim.
Sentei-me,
enrolei-me sobre mim mesma e deixei-me acolher nos braços frios da noite.
Fiquei
ali quieta, desperta, atenta, aterrada, o coração a ribombar, como sinos a
rebate, à espera da luz do dia.
O
dia nasce e com ele todo o mistério é desvendado. Eu regresso à vida e constato
que nunca saíra do meu quarto.
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