quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A entrega (a emoções)


Já me entreguei algumas vezes. Não porque me seja fácil fazê-lo, mas, porque sei que, negando-me à vontade de me entregar, perco intensos momentos de felicidade, de paixão e de cumplicidade.

Se eu sei que essa pessoa tem a capacidade de me fazer feliz, eu quero sentir isso mesmo e lanço-me sem medo, aplicando fortes rédeas à expectativa e convicta de que tenho de contribuir para esse estado de graça que é a felicidade aliada à paixão, nunca passando por um estado de vulnerabilidade.

Estar apaixonada, não é estar vulnerável nem dependente.

Estar apaixonada é querer estar perto da pessoa que nos faz andar nas nuvens, é desejar fazer essa pessoa sentir-se também nas nuvens, é partilhar um sentimento que nos é comum, até na intensidade.

Compreendo que para muitas pessoas o medo da entrega passa por relações anteriores, em que de alguma forma não foram correspondidos ou até foram, mas em determinada altura, findo o prazo de durabilidade, houve sofrimento. Um sofrimento marcante e difícil de superar.
O que não compreendo, é que fiquem agarrados a essa forma finita de analisar uma relação e se coíbam de viver o início de outra relação. Como é possível, descartar o bem que alguém nos pode fazer sentir, apenas baseado no medo de uma ou até mais experiências anteriores?

Afinal, não é nosso propósito na vida, procurar ser feliz?!

Não importa se vou ser feliz por duas horas, duas semanas, dois meses, 20 anos. Isso não me impede de o desejar, de procurar ser feliz e estar contente ao lado de alguém que, garantidamente admiro e desejo. A mim importa-me o presente. Do futuro, nada sei e do passado apenas reza a história. Raramente penso, se o meu presente está a delinear o meu futuro, ou se brevemente ou abruptamente, se transformará no meu passado recente. Aconteça da forma que acontecer, eu terei sempre uma história gravada em mim, é a minha história pessoal, aquela de que não tive medo e arrisquei, vivi, mesmo sabendo que haveria um certo dano colateral negativo.

Quem não se permite a entrega, a paixão não terá deceções, mas também não terá emoções positivas, alegrias, partilhas que são tão boas de ter, especialmente com alguém que nos quer bem.

Nós não somos coisas e como tal, há medos que nos são comuns, quando estamos numa relação, tal como o medo de sermos substituídos, o medo de não estarmos à altura, o medo de não sermos tão interessantes como pensávamos ser, as inseguranças, o ciúme…

Todos nós sentimos isto, é apanágio de quem se sente atraído por alguém, é algo que deve ser exposto, trabalhado e tranquilizado.

O amor, e a paixão fazem-se de respeito pelo outro, de um cuidar com reciprocidade, de um encurtamento de distâncias, de um contacto com maior proximidade na comunicação, de presença, de não deixar o outro à deriva, interessar-se até pelas minudências da sua existência.

A entrega faz-se focada num início e não num fim já delineado. É necessário deixar correr o tempo e aproveitar cada momento bom que daí advém.
No caso de correr mal, fica-nos a lição e um arquétipo de aspetos a evitar numa próxima relação.

Deixar de viver intensamente por medo, isso não está certo! É cobardia.

Temos que nos preocupar menos com aquilo que devemos ser e mais com aquilo que verdadeiramente somos e quem gosta de nós desta exata forma, tem o poder de nos fazer feliz em todos os gestos.

Não quero observar a minha vida por uma janela, ou menos ainda, pelo buraco da fechadura. Quero abrir as portas e as janelas e deixar o sol entrar, aquecendo-me o coração, fazendo abortar angústias exasperadas, apreciando a beleza do mundo na companhia de uma pessoa em particular.


Sem comentários:

Enviar um comentário